sexta-feira, 6 de junho de 2014

As múltiplas personalidades de Luís XVI segundo livros.

Luís XVI é, sem dúvida, um personagem histórico um tanto confuso. Sua personalidade varia de autor para autor, de livro para livro, e a incerteza sobre ele é o que mais rodeia os leitores.
Segundo Bernard Vicent, o autor de uma das únicas biografias do monarca, Luís era minimamente impotente e nada mau humorado, sendo indeciso em apenas algumas questões de pressa. "Como um sensível delfim, possuía 'o coração melhor que a cabeça", como disse o abade Vermond.
Em contrapartida, temos Stefan Zweig, autor do livro Maria Antonieta - O retrato de uma mulher comum, citando Luís Augusto como uma figura pesada e desengonçada, que pouco se importava com a bela mulher ao seu lado. Impotente, indeciso, extremamente fechado, mal humorado e introvertido, "a natureza parece ter de tudo recusado a monsieur delfim, [...] por sua compostura e suas palavras este príncipe anuncia apenas um julgamento muito limitado, muita desgraciosidade e nenhuma sensibilidade" relata o Conde Mercy, embaixador austríaco em Versalhes.
Uma coisa é certa sobre a personalidade do delfim, este jovem não é dotado de muita auto-confiança, mostrando timidez em várias situações. Até os maiores admiradores de Luís XVI concordam nesse aspecto. "...esses traços contraditórios - a reserva e a impetuosidade, a timidez e a veemência - se encontrarão estranhamente misturados no Luís XVI adulto", escreve Bernard Vicent em seu livro.
Sua aparência é também muito questionada, como menciona Stefan Zweig, os pintores o retrataram demasiado belo comparando à sua real fisionomia. Já Vicent, afirma que o futuro rei tinha traços gentis, não, de fato, tão esbelto como Luís XV um dia foi, porém era dono de um rosto calmo, que exalava gentileza.
Todavia, hei de chegarmos à um acordo. É fato que os pintores deste e dos séculos anteriores, tais como Elisabeth Vigee- Le Brun, presentavam o retratado com o que hoje chamamos de "PhotoShop". Ao que tudo indica, qualquer membro da corte ,ou burguês rico o bastante para pagar a um pintor, teria a chance de exibir uma beleza mais avantajada à posterioridade.
Após a morte de Luís XV, em 1774, Luís Augusto, agora Luís XVI, é declarado o novo rei da França, e eis que surge outra bifurcação. Sobre seu reinado, autores se dividem ao apontar os motivos para tal ter sido desastroso. Bernard Vicent, confiante na boa imagem do jovem rei, afirma com todas as forças que este marido não era, de forma alguma, influenciado politicamente pela esposa, e termina triunfantemente seu argumento com um trecho da carta de Maria Teresa, a mãe de Maria Antonieta, ao seu embaixador em Versalhes "Alguns traços de sua conduta me fazem duvidar que ele seja flexível e fácil de se deixar governar". Stefan Zweig parcialmente concorda em seu livro, alegando que Maria Antonieta conseguia tudo de seu esposo, roupas, sapatos, jóias, festas e castelos, mas nada que envolvesse política.
Segundo um, Luís XVI era dotado de uma inteligencia admirável e sabia a usar muito bem, segundo outro, o monarca indeciso não sabia como tomar decisões rápidas e era muitíssimo - como posso dizer? - sonolento.
O fato é que este jovem rei não foi a desgraça francesa, nem muito menos o motivo de toda uma Revolução, o grande culpado mesmo foi um longo processo, iniciado bem antes de Luís nascer, onde a França entrava em declínio.
Em seu casamento, não há quem discorde que aquele homem não ficava confortável com mulheres, mesmo tendo descrito Maria Antonieta como bem atraente. O que, de fato, interessa aos curiosos é a questão nunca respondida: Luís XVI possuía uma doença chamada fimose? Zweig afirma que sim, Vicent diz que não. Outra incerteza, outra dúvida, mais e mais pende na cabeça dos leitores das duas obras em quem acreditar. Seria este um submisso de sua esposa, escravo de seus luxos e tão impotente à ponto de oferecer jóias e presentes como um mero "pedido de desculpas" por não dar um filho à mulher?! Ou seria este o rei poderoso, vítima das situações e de sua mulher fútil, um homem que tomava suas próprias decisões e impunha a autoridade de marido, mesmo não tendo o casamento consumado?! Eu, e talvez você, não podemos responder à esta pergunta, a história é escrita por aqueles que a vivenciam e a corte, aquela mesma fofoqueira e corrupta, preferia sempre a história mais apimentada e engraçada.

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